Os magros não nos entendem

Os magros não nos entendem

A propósito de um artigo veiculado há alguns anos, que defende a ideia de que para emagrecer não é necessário fazer dieta e que se pode comer, moderadamente, de tudo; há uma armadilha lógica nessa proposta. Se os que comem muito pudessem comer pouco e não engordar, por quê não o fariam?

Ou, da mesma forma, por quê se indica a um fumante que deve parar totalmente de fumar e não que fume às vezes? Mesma coisa para os alcoolistas. Por quê um alcoolista não consegue beber eventualmente e precisa de uma garrafa, ou mais, de vodca (ou qualquer outra coisa) por dia para ficar artificialmente, química ou psicologicamente equilibrado? Porque isso não é possível para todos. Alguns não conseguem.

A diferença entre quem consegue e não consegue vai muito além da vontade ou de sua força, inclusive, vai além do treinamento de habilidades específicas. Certamente a diferença entre um gordo e um magro não reside em ser o primeiro irresponsável, desleixado ou não valorizar a vida.

Existe uma conjunção de fatores que combinados, ou não, resultam no descontrole e às vezes, mas nem sempre, no engorde. Digo nem sempre porque tem pessoas que perdem o controle, mas não engordam, por exemplo o caso dos bulímicos, que tem descontroles, mas não chegam a engordar por outros comportamentos compensatórios. Ou, sem ir tão longe, quantos magros se descontrolam com uma caixa de Bis, ou com a pipoca na frente de um filme?

Não obstante têm pessoas que não comem muito e ainda sim tem sobrepeso. Por exemplo, algumas pessoas muito sedentárias, ou idosos que comem pouco mas gastam ainda menos. Comer mais do que o necessário nem sempre é comer muito e ainda assim se pode engordar.

Entre os fatores causais principais está o funcionamento metabolico, que quando baixo é possível comer muito pouco e não emagrecer. Tem também fatores neuroquímicos, relacionados ao centro da recompensa, no cérebro. Essa área deve ser estimulada com "aquela" determinada substância em quantidades variáveis, dependendo da pessoa. Para essa região cerebral estar suficientemente estimulada e saciada pode ser preciso um maço de cigarros, não um ou dois cigarros somente; ou uma barra de chocolate e não somente um quadradinho por dia. Tem outro elemento existente, que ainda não se entende bem, que são as emoções e como elas influenciam no comportamento, e vice-versa. Por exemplo, não se sabe se a ansiedade ou a depressão levam a pessoa a comer, ou o comer é que deixa a pessoa ansiosa e deprimida.

O grande tema não é ser ou não ser gordo, e sim ser ou não ser controlado. Porque são variáveis independentes. E o controle é uma espécie de chave mestra que serve para abrir muitas portas. Paradoxalmente algumas pessoas tem essa chave e não a precisam para determinadas portas. Por exemplo, eu posso ser extremamente controlado para resistir ao chocolate, porque o chocolate nunca me chamou muito a atenção, não exerce em mim o mesmo em um chocólatra.

O controle, no entanto, se adquire com a disciplina, a prática e o treinamento. Tanto comportamental, como também desenvolvendo uma capacidade interior onde o desapego deixa a pessoa mais inteira do que a busca pelo preenchimento de algum "vazio" impreenchível com comida (este é assunto para outro artigo).

Portanto, essa história de que a pessoa tem que aprender a comer de tudo com moderação é a "mentira" da vez, que venderá alguns best sellers e encherá a boca de pessoas que nunca entenderão o gordo.

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